sábado, 24 de outubro de 2009

Segunda Igreja Presbiteriana prepara-se para eleição de novo pastor titular


A Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte poderá eleger no próximo dia 15 de novembro o pastor titular para o triênio de 2010 a 2012. O processo democrático terá chapa única. Mesmo assim é fundamental que o candidato tenha pelo menos 60% dos votos para ser eleito, pois dessa forma estará manifestado o interesse da comunidade em constituir, juntamente com o novo pastor, a Igreja. Neste domingo, 25 de outubro, a escola dominical e a pregação do culto serão realizadas pelo candidato, Reverendo Sandro Amadeu Cerveira, para apresentar suas ideias à comunidade. Portanto, a ocasião conferirá aos membros da Segunda Igreja uma oportunidade para que conheçam melhor a trajetória do candidato e tenham informações sobre seus projetos para a vida comunitária. É com a mesma finalidade que o grupo de jovens, do qual o reverendo Sandro é o professor da classe da Escola Dominical, preparou esta entrevista.

Formado pelo Instituto Bíblico Maranata (interior do Paraná) e ordenado pastor em 1990, Sandro Amadeu Cerveira, 40 anos, nasceu na cidade de São Sebastião do Caí, no Rio Grande do Sul. Ele é casado com Rosimeire Bragança Cerveira e é pai do Samuel, da Jéssica e do João Luis. Professor universitário, com cursos de graduação em Teologia e História, mestrado em Ciência Política (UFMG) e no momento encontra-se na fase final do seu doutorado em Ciência Política pela UFMG, após fazer uma estância de investigação Universidade de Salamanca – Espanha. A história desse gaúcho com as Minas Gerais começou quando ele veio para Belo Horizonte fazer um estágio, requisito fundamental para receber o diploma em teologia e ser ordenado pastor.

Ao chegar a Minas, Sandro morou na cidade de Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte, no bairro Cristina, onde cooperava com a primeira igreja batista do local. Depois, junto com mais três casais de missionários iniciou os trabalhos que deram origem à Igreja Batista Boas Novas, no bairro Floramar, em Belo Horizonte. Sua trajetória pastoral começa com a fundação dessa igreja, ligada, na época, ao Movimento Batista Regular. Ele e Rosimeire pastorearam a igreja por 12 anos ininterruptos com muitas lutas e lágrimas, mas também com muitas vitórias e alegrias. Quando pediu para ser licenciado do pastorado a comunidade estava consolidada com uma membresia atuante, templo próprio e uma escola de educação infantil funcionando durante a semana. Nesse tempo, ele também colaborou na criação da associação de igrejas da denominação a que estavam ligados.

Nascido e criado no Rio Grande do Sul, onde sua família ainda reside, assim como Luiz Fernando Veríssimo, ele não sabe montar a cavalo nem nunca usou bombachas, mas sabe preparar chimarrão e é colorado desde pequenino. Ele afirma que desde que chegou foi bem acolhido pelos mineiros e de fato já viveu mais em Minas do que em qualquer outro lugar, mesmo na própria terra natal.

Jovens: Como conheceu a Segunda Igreja?
Sandro: Essa é uma parte importante de minha vida, pois a Segunda Igreja representou de fato uma “segunda chance” quando passava por um momento de ruptura em minha trajetória. A igreja que eu pastoreava era ligada por laços históricos e fraternos ao Movimento Batista Regular. Este movimento tem no fundamentalismo uma das suas marcas identitárias distintivas; enquanto comunguei com esta maneira de ler as Escrituras e o mundo mantive-me leal ideológica e institucionalmente falando. Ao final de um longo período de reflexão e revisão, encontrei-me convicto de que não só deveria licenciar-me do pastorado, mas também era o momento de me afastar do movimento ao qual estivera ligado desde minha juventude. Quando me pergunto o porquê desta ruptura gosto de pensar que foi exatamente por levar a sério o que aprendi sobre a importância de uma leitura intelectualmente honesta e contextualizada da Bíblia que acabei percebendo as incongruências de qualquer fundamentalismo. Saí em paz com meus irmãos e meus colegas. Iniciou-se então um tempo de deserto. Durante quase um ano, não tive desejo de freqüentar qualquer igreja; as poucas tentativas que fiz, pensando nas crianças, apenas confirmavam minha convicção de que todas as igrejas evangélicas haviam reduzido as boas novas do evangelho a um amontoado de regrinhas e moralismos. Foi aí que me lembrei de um senhor que havia conhecido num encontro do MEP (Movimento Evangélico Progressista). Estive nesse encontro como pesquisador bolsista do Programa de História Oral da FAFICH/UFMG e ali conheci muita gente interessante. Este senhor, que se tornou um querido amigo, havia também me convidado para assistir a um encontro em sua igreja, “O Papo na Segunda”. Resolvi tentar mais uma vez e encontrei na Segunda Igreja minha caverna de Adulão. Durante um bom tempo, creio que mais de um ano, assentei-me e ouvi, fui acolhido, cuidado e fiz grandes amigos; sobretudo descobri que era possível uma igreja onde as pessoas podiam ser elas mesmas vivendo uma espiritualidade marcada pela graça de Deus.

Jovens: Sempre soube que queria ser pastor? Ou houve um chamado?
Sandro: Creio que o chamado veio muito cedo em minha vida espiritual. A experiência junto à “mocidade” da minha igreja foi fundamental para perceber as habilidades e o desejo de caminhar junto e ajudar outros irmãos na fé. Quando eu tinha 15 anos de idade e apenas uns dois anos de igreja evangélica, nosso pastor ofereceu um curso de “homilética” (disciplina que ensina a arte da pregação) e eu me matriculei apesar dele achar que fosse um tanto cedo. Com 18 anos, ao invés de ir para a faculdade (minha faculdade de história teria de esperar ainda 8 anos), eu fui para o Instituto Bíblico com a convicção de que Deus me chamara para o santo ministério. Mais tarde, percebi que me precipitara e trocara a ordem das coisas, mas os caminhos do Senhor não são necessariamente lineares e cartesianos e hoje tenho convicção de que o chamado a qualquer ministério faz parte daquilo que somos. Não precisamos ver uma “sarça ardendo” para saber que Deus nos capacitou para algum ministério, precisamos nos conhecer e o que precisa arder é a paixão por servir ao corpo de Cristo com as ferramentas com as quais Senhor nos capacitou.

Jovens: Sempre trabalhou com os jovens na Segunda Igreja?
Sandro: Como muitos sabem, no início fiquei no banco e isso foi muito importante. Foi um tempo de cura e de recuperação. Depois, lecionei na “Casa de Lázaro” uma classe deliciosa e inquietante. Quando o Rev. Mauro renunciou, participei, junto com Rev. Márcio e Éser, do Colegiado de pastores que serviu a igreja até a chegada do Rev. Jeremias. Foi no período deste colegiado que fui convidado pelos jovens e pela superintendente da Escola Dominical de então, Presb. Alzira, para assumir a classe dos jovens. O seminarista Murilo foi companheiro de mais de um ano e depois conduziu sozinho a classe durante o tempo que passei na Espanha em virtude do meu doutorado.

Jovens: Você ficou três anos orando para apresentar seu nome como candidato a pastor da Segunda Igreja, como foi esse processo?
Sandro:
Quando o período do colegiado de pastores terminou, eu entendi, por uma série de razões, que não deveria me candidatar ao pastorado titular da igreja. Sinceramente meu desejo “humano” era continuar quietinho cooperando dentro do possível, mas me senti profundamente e cada vez mais incomodado todas as vezes que refletia sobre isso. Orei aqui e longe daqui e finalmente tive paz para submeter meu nome à comunidade. Entendi que esse é o “kairós” (tempo oportuno) de Deus.

Jovens: Tem algum planejamento para possibilitar maior integração do presbitério Erasmo Braga?
Sandro:
Creio que devemos apoiar e cooperar o máximo possível nos esforços que vem sendo promovidos pelo Rev. Isaque neste sentido de integrar as igrejas associadas. As igrejas do PEB tem uma bonita história, mas temos mesmo essa dificuldade de integração, entre outras coisas pela própria distância geográfica, pois temos igrejas de Belo Horizonte até Ananindeua no Pará. Integrar o PEB pode ser uma excelente maneira de fortalecer não só as pequenas igrejas, mas também de criar possibilidade de abrir novos trabalhos.

Jovens: Quais são os seus projetos para a Segunda Igreja?
Sandro:
Essa é uma pergunta difícil, pois para ser específico gastaria muito tempo. Tenho uma série de ideias pululando na minha cabeça sobre o que podemos fazer a partir da nossa igreja, mas prefiro falar em termos mais gerais.

Em primeiro lugar, acredito que uma igreja só avança e cresce de forma sadia na medida em que cada parte (membros e ministérios) estiver devidamente integrada e atuante. Essa experiência não é desconhecida para nós, pois uma igreja não atravessa cinco décadas sem que seus membros estejam comprometidos. Temos uma série de ministérios funcionando muito bem e creio que devemos conhecê-los melhor, valorizar além de divulgar esses trabalhos. Muitas vezes, nosso olhar foca naquilo que não temos ou não fazemos, mas isso é tão fácil quanto desanimador. Sempre haverá faltas e lacunas; creio, porém, que precisamos focar no que está funcionando e além de dar o devido valor aprender com nossos próprios exemplos de sucesso.

Em segundo lugar, precisamos consolidar, investir e integrar esses ministérios de forma a potencializar seus esforços e resultados. Comentei por ocasião do encontro com o Conselho sobre a necessidade, por exemplo, de termos alguma forma de reunir todas as lideranças dos diferentes ministérios da igreja para pensarmos e planejarmos juntos ouvindo as diferentes vozes da comunidade.

Também acho que é importante criar novas estratégias e abrir novas portas para o trabalho de evangelização. Como disse, tenho algumas idéias, mas creio que existem muitas coisas novas que podemos fazer e que para tal só precisamos dar o primeiro passo.

Sobretudo, meu desejo é trabalhar de forma integrada com todas as lideranças da igreja, pois creio sinceramente que as ideias que dão certo são aquelas concebidas e encampadas coletivamente. Alguém já disse que quando caminhamos juntos podemos até ir mais devagar (é muito trabalhoso e difícil trabalhar em equipe), mas com certeza iremos mais longe e os resultados serão mais duradouros. Todos os membros da igreja são convocados pelo chamado do Senhor a descobrir e investir seus dons espirituais e “naturais” na obra de Deus.

Jovens: Quais ações para dar mais visibilidade à Segunda Igreja?
Sandro:
Esse é um tema importante que precisa ser discutido cuidadosamente. Penso que antes de tentar qualquer novidade, sobretudo, vindas de modelos pré-fabricados, precisamos como disse anteriormente, conhecer melhor e valorizar aquilo que nós já temos. Acredito sinceramente que muitas pessoas em BH gostariam de assistir a uma boa cantata de natal, a um culto animado por jovens dedicados, ouvir um grupo de música evangélica com tempero brasileiro, apoiar um centro que oferece atendimento psicológico gratuitamente, entre tantas coisas que já fazemos. O que precisamos é encontrar maneiras de falar com essas pessoas. Penso que devemos manter as estratégias que têm se mostrado bem sucedidas, como o trabalho individual dos membros de convidar amigos e parentes para trabalhos na igreja e também em suas próprias casas. Por outro lado, é importante aproveitar bem as novas tecnologias como a internet e mesmo os meios de comunicação de massa. Temos vários irmãos com dons, talentos e formação nessa área, minha idéia é desafiá-los a pensarmos essa área com ousadia.

Jovens: O que pensa sobre o culto dos jovens? Vai dar continuidade de reservar um domingo por mês aos jovens?
Sandro:
Creio que o “culto dos jovens” foi uma excelente ideia. Os jovens têm participado de forma séria e dedicada mostrando desejo de servir de coração ao Senhor. Acho que está claro pra todos nós que os jovens são capazes de atuar de forma autônoma e simultaneamente harmoniosa com o pastor, o conselho e a igreja de forma geral; isso pra mim é evidência de maturidade dos jovens e da própria comunidade. Não tenho dúvidas de que esta é uma atividade que deve ter continuidade.

Jovens: considera importante o crescimento do número de membros da igreja?
Sandro:
Considero o crescimento numérico da igreja muito importante. Não consigo entender quando uma comunidade despreza ou recusa esforços de evangelização e divulgação. Uma igreja “ensimesmada”, que não consegue vibrar com os anjos quando alguém se aproxima da comunidade cristã é uma igreja adoecida.
Por outro lado, dado os índices “estratosféricos” que algumas denominações apresentam, existe sobre as igrejas e pastores uma pressão no sentido de crescer a qualquer custo. Isto também não é sadio. No altar do crescimento numérico muitas vezes é a identidade da igreja que é sacrificada. Identidade é aquilo que nós somos, mas também aquilo que não somos; se sacrificamos isso para crescer, quando formos “grandes” já não seremos nós mesmos. Crescer mimetizando outros pode nos levar a ser uma cópia caricata e inacabada de alguma mega igreja e eu não consigo ver nisso uma benção.
Quando olho com calma as igrejas que cresceram de forma salutar o que eu vejo é muito trabalho e investimento. Envolvimento apaixonado da liderança e da comunidade aliado a investimentos sólidos e liberais.

Jovens: Quais os principais problemas enfrentados pelas igrejas protestantes hoje em dia?
Sandro:
Antes de falar dos problemas, creio que devo registrar que tenho uma visão otimista do protestantismo no Brasil. Minha visão positiva vem, sobretudo, quando comparo o Brasil com a América Latina e a Europa e mesmo aos EUA.
No Brasil, há expressivo número de pessoas se convertendo a Jesus todos os dias, mudando de vida, estruturando suas famílias e isso é bom. Embora as taxas mais exacerbadas de crescimento estejam entre os grupos chamados de neo-pentecostais, os demais evangélicos têm crescido também e isso não é pouca coisa.
Outro aspecto positivo, é que no Brasil o crescimento evangélico vem sendo acompanhado também de um fortalecimento do pluralismo religioso. O fortalecimento dos evangélicos, ainda que como um efeito não esperado, vem contribuindo para que sejamos um país mais plural e democrático. Isso é positivo na medida em que pluralismo (religioso no caso) sendo reconhecido como legítimo em geral aumenta as chances de ampliar os direitos de todos.

Por outro lado, embora o crescimento tenha muitos aspectos positivos, ele coloca também alguns desafios sérios relacionados à própria identidade protestante. Para os protestantes “históricos” ou de “missão”, como se convencionou chamar as igrejas que aqui chegaram por meio do esforço missionário de igrejas da Europa e dos EUA, como é o caso da Igreja Presbiteriana, parece que o dilema do momento é mesmo o fato de que enquanto os irmãos pentecostais (antigos e novos) crescem de forma acelerada os “históricos” apresentam percentuais bem mais modestos ou mesmo negativos. Alguns se preocupam que não crescendo possam até mesmo desaparecer e é fato de que grupos demasiadamente pequenos terão maiores dificuldades para se manter e agir em qualquer sentido. O que me preocupa é, como disse antes, que essa angústia leve a um esforço de simplesmente “copiar” o que vem sendo feito entre os grupos melhor sucedidos numericamente e venhamos assim a sacrificar elementos importantes de nossa identidade. Nunca me esquecerei do desespero que fiquei quando assisti a um culto ”neo-pentecostal” numa igreja histórica. Sinceramente não creio que esse seja o caminho.

A outra face da moeda é que como vivemos imersos numa mentalidade pragmática tendemos a concluir que não há diferença entre “aquilo que é certo” e “aquilo que dá certo”. Quem é bem sucedido tende a não parar para refletir sobre a legitimidade de seus métodos e pode ser tentado e recusar qualquer crítica ou controle sobre seu comportamento ético sob o pretexto de que está sendo abençoado por Deus logo não há o que discutir.

Há ainda outro efeito perverso do sucesso que quero destacar. Como todos os evangélicos estão indo relativamente bem nunca paramos para pensar sobre a necessidade de nos unirmos. Estive no X Congresso Evangélico Espanhol e fiquei impressionado com capacidade deles de se organizar de forma conjunta; mas lá os evangélicos não passam de 2% da população e a questão então é que ou nos unimos (respeitando as especificidades de cada denominação) ou ficamos ainda mais fracos. Foi bonito ver batistas, presbiterianos, ciganos da igreja Filadélfia, irmãos unidos todos celebrando e agindo em conjunto.

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