Por Hênio Santos de Almeida
Teólogo e aspirante a pastor
A maior parte das pessoas que me solicitam ajuda desconhece que seu verdadeiro problema consiste, basicamente, em que aprenderam a “desviver”. É incrível como passamos pelo tempo sem desfrutar nossa realidade, culpando aos demais pelas nossas amarguras e derrotas, atribuindo-nos todos os méritos do êxito que tanto aprendemos a desejar, e a sentir que não merecemos ser felizes. Outros soluçam todo o tempo, discutem eternamente, vão criando montanhas de problemas, ou, simplesmente, cometem a fatuidade de crer que a meta é fazer o que lhes “der na telha”. Enfim, ao longo de sua história o ser humano aprendeu emocionalmente a carregar com os erros alheios, as culpas alheias, os medos alheios, e, por sua vez, a transmitir aos que nos rodeiam as mesmas culpas, os mesmo medos que nos aterraram e paralisaram.
Sem nos darmos conta, por suposto, praticamente, desde o início aprendemos a sermos espectadores de nossa própria vida a qual contemplamos como algo fora e independente de nós. Esta é então a primeira contradição com a qual nos presenteamos de geração em geração: confundir a realidade com nossa própria, única e irrepetível vida.
Se você não concorda, trate de definir com alguém, inclusive com você mesmo, “o que é a vida”. Mas não se assuste quando de maneira jubilosa ou dessaborosa, como se fosse algo que pertence ao mundo externo. A vida é: “...um desastre”; “...um milagre”; “...uma felicidade”; “...uma desgraça”; “...um mistério”; “...um combate”; “...um lixo”, etc.
As respostas acima dão a impressão que eu estou aqui e a vida está lá, totalmente fora de mim, e que ela é, por sua vez, a responsável por tudo o que me acontece. Na realidade, se a vida é tudo o que existe fora e independente de mim, devo me perguntar: “onde fui parar?”. Simplesmente começamos a levantar um muro que não apenas nos isola, senão que também nos esmaga!
Então, a vida... O quê é?
Sim! Como diria Rousseau: “Sai de tua infância, amigo, desperta!”. E a esse despertar ao qual conclamo você, é que compreenda que A VIDA É VOCÊ! Sim, você mesmo que lê estas palavras! A vida é você com todas as inesgotáveis possibilidades de criar, amar e crescer que brindam as infinitas interações entre a realidade e sua vida.
Quando você sabe que você é a vida, não tenta levantar paredes que lhe escondem ou falsamente lhe protegem da realidade, pois percebe que realmente está fugindo de você mesmo. Quando aprende que você é a vida, se fazem inecessárias as corridas que desesperadamente empreende contra o relógio para alcançar o êxito, como a via de ser aceito porque conseguiu ser alguém. Ao se dar conta de que você é a vida, chega à sua essência de que realmente você vale pelo que é e não pelo que tem. Quando vivencia de todo o coração que a vida é você, o passado deixa de ser o fantasma que condiciona e agonia seu futuro.
Quando desfrutar de você como a vida desaparecerá seu medo da aproximação e da intimidade com outros, não terá do que esconder-se, sua transparência terminará com a ansiedade, que é a linguagem de seu corpo que não consegue silenciar.
Quando você reconhecer-se como a vida será capaz de se dar conta de que pode decidir diante de sua liberdade livremente, que esta é (e você a assume) como via de transformá-la e transformar-se para desenvolver-se como ser humano onde se encerra o amor de Deus.
Quando for plena a convicção de que você é a vida, a culpa não lhe afogará por sentir-se imperfeito, poderá entender e sentir que pode equivocar-se.
O paraíso e o inferno estão em você. O ser humano veio para desfrutar de sua existência nesta Terra, tem o direito de amar-se, de viver em paz, de criar e contribuir ao desenvolvimento da própria existência humana.
Ao conhecer o verdadeiro significado do que você é, poderá então perguntar-se: O que sou de verdade?
A tendência é responder: sou advogada, professora, motorista asmático, empresário, gay, um gatão. Sem dar-se conta, você intercambeia suas atividades laborais, seus diagnósticos médicos ou simplesmente sua orientação sexual com quem você é.
Na realidade você mesmo não se conhece interiormente, porém sim externamente vivencia o reflexo em seu espelho: domina sua forma mais não seu conteúdo. Proponho-lhe descobrir-se para:
1º. Fazer as pazes contigo mesmo. Assumir a realidade. Decidir livremente seu caminho. Ser o dono de sua auto-estima e controle. Transformar-se para transformar.
2º. Aprender a conhecer-se e conhecer aos demais. Assumir a diferença. Melhorar a comunicação e as relações interpessoais.
3º. Desfrutar sua vida. Investir menos tempo em renegar e criticar. Dedicar seu tempo a construir e amar. Encontrar um maior número de alternativas e soluções.
Assim procedendo existirão então infinitas motivações para ajudar aos demais.
“[...] Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.”
(Evangelho segundo João: 10,10b)
Pastoral do mês de novembro