terça-feira, 24 de novembro de 2009

TU ÉS A VIDA!



Por Hênio Santos de Almeida
Teólogo e aspirante a pastor

A maior parte das pessoas que me solicitam ajuda desconhece que seu verdadeiro problema consiste, basicamente, em que aprenderam a “desviver”. É incrível como passamos pelo tempo sem desfrutar nossa realidade, culpando aos demais pelas nossas amarguras e derrotas, atribuindo-nos todos os méritos do êxito que tanto aprendemos a desejar, e a sentir que não merecemos ser felizes. Outros soluçam todo o tempo, discutem eternamente, vão criando montanhas de problemas, ou, simplesmente, cometem a fatuidade de crer que a meta é fazer o que lhes “der na telha”. Enfim, ao longo de sua história o ser humano aprendeu emocionalmente a carregar com os erros alheios, as culpas alheias, os medos alheios, e, por sua vez, a transmitir aos que nos rodeiam as mesmas culpas, os mesmo medos que nos aterraram e paralisaram.
Sem nos darmos conta, por suposto, praticamente, desde o início aprendemos a sermos espectadores de nossa própria vida a qual contemplamos como algo fora e independente de nós. Esta é então a primeira contradição com a qual nos presenteamos de geração em geração: confundir a realidade com nossa própria, única e irrepetível vida.

Se você não concorda, trate de definir com alguém, inclusive com você mesmo, “o que é a vida”. Mas não se assuste quando de maneira jubilosa ou dessaborosa, como se fosse algo que pertence ao mundo externo. A vida é: “...um desastre”; “...um milagre”; “...uma felicidade”; “...uma desgraça”; “...um mistério”; “...um combate”; “...um lixo”, etc.

As respostas acima dão a impressão que eu estou aqui e a vida está lá, totalmente fora de mim, e que ela é, por sua vez, a responsável por tudo o que me acontece. Na realidade, se a vida é tudo o que existe fora e independente de mim, devo me perguntar: “onde fui parar?”. Simplesmente começamos a levantar um muro que não apenas nos isola, senão que também nos esmaga!
Então, a vida... O quê é?

Sim! Como diria Rousseau: “Sai de tua infância, amigo, desperta!”. E a esse despertar ao qual conclamo você, é que compreenda que A VIDA É VOCÊ! Sim, você mesmo que lê estas palavras! A vida é você com todas as inesgotáveis possibilidades de criar, amar e crescer que brindam as infinitas interações entre a realidade e sua vida.

Quando você sabe que você é a vida, não tenta levantar paredes que lhe escondem ou falsamente lhe protegem da realidade, pois percebe que realmente está fugindo de você mesmo. Quando aprende que você é a vida, se fazem inecessárias as corridas que desesperadamente empreende contra o relógio para alcançar o êxito, como a via de ser aceito porque conseguiu ser alguém. Ao se dar conta de que você é a vida, chega à sua essência de que realmente você vale pelo que é e não pelo que tem. Quando vivencia de todo o coração que a vida é você, o passado deixa de ser o fantasma que condiciona e agonia seu futuro.

Quando desfrutar de você como a vida desaparecerá seu medo da aproximação e da intimidade com outros, não terá do que esconder-se, sua transparência terminará com a ansiedade, que é a linguagem de seu corpo que não consegue silenciar.

Quando você reconhecer-se como a vida será capaz de se dar conta de que pode decidir diante de sua liberdade livremente, que esta é (e você a assume) como via de transformá-la e transformar-se para desenvolver-se como ser humano onde se encerra o amor de Deus.

Quando for plena a convicção de que você é a vida, a culpa não lhe afogará por sentir-se imperfeito, poderá entender e sentir que pode equivocar-se.

O paraíso e o inferno estão em você. O ser humano veio para desfrutar de sua existência nesta Terra, tem o direito de amar-se, de viver em paz, de criar e contribuir ao desenvolvimento da própria existência humana.

Ao conhecer o verdadeiro significado do que você é, poderá então perguntar-se: O que sou de verdade?

A tendência é responder: sou advogada, professora, motorista asmático, empresário, gay, um gatão. Sem dar-se conta, você intercambeia suas atividades laborais, seus diagnósticos médicos ou simplesmente sua orientação sexual com quem você é.

Na realidade você mesmo não se conhece interiormente, porém sim externamente vivencia o reflexo em seu espelho: domina sua forma mais não seu conteúdo. Proponho-lhe descobrir-se para:

1º. Fazer as pazes contigo mesmo. Assumir a realidade. Decidir livremente seu caminho. Ser o dono de sua auto-estima e controle. Transformar-se para transformar.

2º. Aprender a conhecer-se e conhecer aos demais. Assumir a diferença. Melhorar a comunicação e as relações interpessoais.

3º. Desfrutar sua vida. Investir menos tempo em renegar e criticar. Dedicar seu tempo a construir e amar. Encontrar um maior número de alternativas e soluções.

Assim procedendo existirão então infinitas motivações para ajudar aos demais.

“[...] Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.”
(Evangelho segundo João: 10,10b)
Pastoral do mês de novembro

Um comentário:

João Weslley disse...

Amado, acredito que para nos aproximar de uma resposta um pouco satisfatória do que é a vida teríamos que nos entregar a conhecer alguns conceitos como Dignidade Humana, Liberdade, Moralidade e Autonomia. Afirmar que as pessoas aprenderam a "desviver", revela que nosso senso de cuidado está em declinio. Como escreveu Leonardo Boff "O cuidado expressa a importância da razão cordial, que respeita e venera o mistério que se vela e re-vela em cada ser do universo e da terra".

A vida é muito complexa e não pode ser definida apenas como sendo "...um desastre", "...um milagre",“...uma felicidade”; “...uma desgraça”; “...um mistério”; “...um combate”; “...um lixo”, etc. De tudo não podemos esquecer que “A imagem de Deus distingue o homem de todas as outras criaturas; é o que nos faz humano.”( Millard J. Erickson).


(Salmos 138.17)

Ó Deus, como são insondáveis para mim vossos desígnios! E quão imenso é o número deles!

(Efésios 3.15-21)
Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra, para que vos conceda, segundo seu glorioso tesouro, que sejais poderosamente robustecidos pelo seu Espírito em vista do crescimento do vosso homem interior. Que Cristo habite pela fé em vossos corações, arraigados e consolidados na caridade, a fim de que possais, com todos os cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo o conhecimento, e sejais cheios de toda a plenitude de Deus. Àquele que, pela virtude que opera em nós, pode fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou entendemos, a ele seja dada glória na Igreja, e em Cristo Jesus, por todas as gerações de eternidade. Amém.

João Weslley
joaoweslley1@hotmail.com